domingo, 9 de outubro de 2011

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Viver como uma Prece

Olá!
Todos nós passamos por conflitos interiores, que às vezes tem um motivo aparente, outras vezes não. São sentimentos e pensamentos escondidos num lugar que não sabemos e muitas vezes nos pega desprevenidos. O ser humano é complexo e como se não bastassem as nossas imperfeições, somos também cheio de traumas e uma somatória de pormenores de nossa história. Somos também fruto de nossas ações e atitudes, que em várias ocasiões invadem nossa própria razão e se sobrepõe a essa. Tive muitas experiências boas e ruins em minha breve experiência de vida e sei que tenho muito a aprender (todos os dias). Porém, uma coisa que já apreendi e que tem muita eficácia é o poder da oração. É incrível como ela nos tira o peso do coração e eleva nosso espírito para um lugar mais calmo. E é claro que não existe um manual. Cada um ora com a fé que lhe é dada ou apreendida, ou ainda praticada. Uma reza, um pensamento, um dobrar de joelhos. A prece pode ser a nossa própria vida e atitudes. Quando deixamos de fazer ou de dizer algo que sabemos, não era apropriado ou com nossas mãos e nosso próprio corpo, nos doamos para o próximo ou emitimos um sorriso e uma palavra de acalanto...então também oramos.

A oração faz bem para a alma e nos torna pessoas melhores. A medida que reconhecemos atitudes vãs e errôneas, a medida que mergulhamos em nosso ser interior, refletindo sobre nossa existência neste mundo e perguntando "qual o meu lugar aqui?". Esses dias li uma crônica que foi publicada no Jornal de Londrina no dia 17 de agosto, pelo jornalista Paulo Briguet, que achei linda, singela. Vou transmití-la aqui no Blog

Eu não sei rezar
Por Paulo Briguet

Sábado de sol, começo de tarde. Tomo cerveja com um amigo agnóstico na Cantina do Nonoca. Ele diz:
– Tudo bem que você é católico, Briguet. Mas me responda sinceramente: você reza?
– Claro. O dia inteiro. Agora mesmo você foi ao banheiro e eu aproveitei para dar uma rezadinha.
Há algum tempo venho ocupando os espaços do meu tempo com a oração silenciosa. São preces meio desajeitadas, porque falar com Deus é uma grande responsabilidade. Por isso eu sempre recorro ao Pai-Nosso, à Ave-Maria, à Profissão de Fé, ao Glória ao Pai. Quando eu era menino, sabia o Ato de Contrição; preciso urgentemente reaprendê-lo.
Rezar é muito bom. Serve para colocar as ideias e sentimentos em ordem; ajuda a limpar o espírito. Quando estou a ponto de perder a paciência; quando sinto a aproximação do ódio; quando percebo dentro de mim a irrupção da vaidade ou do ressentimento – aí é hora de orar.
A prece me conduz de volta às coisas fundamentais. Na rotina, a linguagem serve para romper a solidão em que estamos imersos. Em sentido oposto, a prece é uma forma de usar a linguagem para mergulhar sem medo na solidão. Cada prece é uma caminhada na noite escura da alma, descrita no célebre poema de São João da Cruz.
Outro bem proporcionado pela oração é a oportunidade de escutar a voz de Deus. Ouvir o que Ele tem a dizer é uma tarefa ao mesmo tempo árdua e óbvia. Mas que imensa alegria saber que Deus dirigiu uma palavra, uma simples palavra, à pequenez em que nos encontramos! Acontece poucas vezes durante uma vida. Acho que vivo rezando, meu amigo, apenas para obter esses raros instantes, não digo de felicidade, mas de contemplação.
Durante quinze anos de minha vida, de 1987 até 2002, não fiz uma única prece verdadeira. Foi meu período de ateísmo – minha noite escura particular. Até que um dia entrei numa capela antiga e vi o reflexo do Sol no vitral. Ali mesmo fiz uma rápida prece de perdão, que não deve ter durado mais que um segundo, mas valeu por uma vida inteira.
Na infância, quando eu era aluno da Casa Pia São Vicente Paulo, as freiras cantavam: “Mãezinha do Céu/ Eu não sei rezar/ Eu só sei dizer/ Quero te amar”. Até hoje eu não sei rezar direito – por isso rezo tanto. Para aprender. E para amar.

  Que nossa própria vida possa ser uma oração, muito mais do que palavras. Mas que as palavras possam tomar vida e se sustentar como verdades dirigindo os pensamentos e nossas ações...




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